Comic by Rob Cottingham, via Mastodon

…people tend to think this is the time everything is going to be different.

That’s why I couldn’t help posting the above comic, from Rob Cottingham, once I saw it posted on Mastodon. The moment is just perfect because it’s very easy to notice how people — in general, I mean, but not me — seem to be excited about Threads, having just arrived at Meta’s latest party.

I’ve already written my personal opinion about Threads (in Portuguese), but I’ll use this post to, in addition to thatand the above comic panel —, quote a very interesting passage written by Rodrigo Ghedin in one of his latest Manual do Usuário newsletters, and that I took the liberty to freely translate into English:

The best thing about Threads, the new Meta social network, remains still a promise: interoperability with ActivityPub, the protocol behind Mastodon and other decentralized networks.

Rodrigo Ghedin

This coincides with what I wrote, because there’s really no day zero ActivityPub interoperability, jeopardizing my personal plans of only following my friends and family who are on Threads without ever stepping into the party venue itself. And again, as also said by Ghedin, that’ll only be possible when (and if) this promise is turned into reality, what remains to be seen. Until then, I can’t help take Meta’s intentions with a grain of salt… after all, they’ve crowded every square pixel of digital real state they have — Facebook and Instagram, remember? — with algorithms and advertising, and I believe it’ll be only a matter of time until Zuck and his homies enshittify Threads as well.

I’d honestly like to be wrong about it, but so many past platforms made me know better. Time will tell.

Quando eu cheguei ao fediverso, através do Mastodon, eu experimentei algumas instâncias diferentes, antes de me estabelecer aqui no social.lol. O fato da rede ser descentralizada favorece isso, o que é ótimo, pois é como escolher uma casa ou apartamento com as características que você mais valoriza, em uma vizinhança que você aprecia.

Cansado das redes sociais de sempre e de seus algoritmos, que podem fazer todo o sentido para as big evil techs e seus planos capitalistas de dominação mundial mas não fazem nenhum sentido para mime outros usuários convencionais, o Mastodon me apresentou exatamente aquilo do que eu estava precisando, a começar por uma timeline isenta de algoritmos, o que significa que não são exibidas sugestões espertas sobre quem eu devo seguir ou não, e a descoberta de perfis e de gente interessante cabe inteira e exclusivamente a mim, e àquilo que eu entendo que são assuntos e opiniões que quero ver e com os quais quero interagir.

Mas não é só isso que o Mastodon permite. Com ele, bloqueio quem eu quiser, e sigo quem eu quiser, com o detalhe que, se a pessoa estiver em uma outra instância, não preciso ver os posts de todo mundo que está na outra instância, porque posso me inscrever somente naquele dado usuário interessante que eu encontrei. Além disso, nada de propaganda. Nenhum banner, nenhum link patrocinado. Nunca. Never. Jamais.

Instância do Mastodon aproveitando o conteúdo e interagindo amistosamente

Essas coisas combinadas perpetuam a sensação que o Mastodon me transmite: um lugar onde eu posso conversar igual a quando você coloca uma cadeira na varanda da sua casa, ou na calçada da rua, e espera que as outras pessoas cheguem com suas próprias cadeiras e todos se juntem para um daqueles ótimos bate-papos informais e descompromissados, igual aos das cidades do interior, sabe?

Tirando o Mastodon, só tenho aplicativo instalado em meu celular para o Instagram, porque há alguns conteúdos interessantes de amigos e familiares que eu sigo por lá, e que de vez em quando eu acesso para me atualizar. Esses são os mesmos amigos aliás, que são extremamente difícies de convencer a migrar do WhatsApp para o Telegram, por exemplo, ou do Twitter para o Mastodon. E é por isso que ainda mantenho uma presença mínima no Instagram. Mas nada de Twitter, onde apaguei todas as minhas postagens, nem de Facebook, que não sabe o que é ocupar um espacinho que seja na memória do meu celular há anos.

Então, quando a Meta anunciou, no mês passado, que seu Project 92, rebatizado logo em seguida de Threads, seria tanto um competidor do Twitter quanto uma aplicação compatível com ActivityPub, abrindo suas portas para o fediverso, pensei que isso juntaria fome e vontade de comer para mim: fui logo fazer o download e instalar no meu celular, usando meu usuário do Instagram para criar uma conta por lá.

E centenas de milhares de usuários também foram fazer isso. O povo não pode ver uma rede social nova que já desembesta a sair correndo pra garantir o seu lugar (e nome de usuário).

Usuários tentando chegar primeiro no Threads

E é interessante esclarecer: não, não tenho nenhuma pretensão de usar o Threads ativamente, e cheguei a essa conclusão menos de 5 minutos depois de navegar através da interface do aplicativo. Lá estavam eles, na timeline: posts de pessoas que eu não conheço, que eu não pedi pra ver e que não me interessam. Centenas. Não, milhares deles. Uma quantidade surreal de notificações push, cuja utilidade passa a ser severamente questionada quando ocorrem a cada 5 segundos e que, para mim, só servem para alimentar ansiedade desnecessariamente, dizendo que fulano me seguiu, que beltrano quer me seguir. Em breve serão notificações de sugestões para eu seguir. A Meta, empresa da qual aliás eu não gosto, conseguiu nos primeiros instantes da minha user experience com o Threads, jogar no caldeirão exatamente os elementos que eu abomino. Para achar posts de pessoas que eu quero ver e que eu gostaria de seguir, somente fazendo doom scroll e achando, vez por outra, o que um amigo ou familiar postou, mesmo ainda não sabendo ao certo pra que serve esse bicho novo que tio Zuck criou.

É horrível.

O único elemento perceptível para mim, que sou leigo, que remete ao fediverso é a existência da instância do Threads junto ao nome dos usuários. O meu, aliás, danielsantos@threads.net, surgiu migrado instantaneamente do Instagram. Mas não tem como eu seguir ninguém de qualquer outra instância do fediverso, então, nada de seguir gente que já estava no fediverso antes. Nada de seguir gente do Threads nas instâncias já existentes também, então, nada de federação na inauguração. Hmmmm. Se eu fosse de tomar chopp, diria que esse é o tipo de coisa que coloca um monte de água nele, pois inviabiliza, desde o instante zero, meus planos de seguir as postagens de amigos e familiares que não topariam migrar para o Mastodon através da instância onde já estou no fediverso. Uma droga.

Outra coisa interessante é que, uma vez criado seu perfil no Threads, não é possível excluir sua conta. Não existe opção pra fazer isso, pode procurar. O que é perfeito para o Meta, que assim não só arrebanha gente do Instagram fazendo um pré-populamento de quem já estiver naquela rede social dentro do Threads, mas também, uma vez que coloca os usuários ali dentro, não permite que eles saiam. Abre uma porta, trancada depois da passagem de cada usuário, jogando a chave fora logo em seguida. Em seguida, pode estar certo disso: em algum momento, virão exibições de propaganda direcionada e uso de algoritmos automatizados, dois dos horrores dos quais me livrei, e que já citei acima, quando entrei no fediverso.

Será a merdificação do Threads, e só isso para mim já seria motivo suficiente para sair do Threads, e para aconselhar quem ainda não entrou a não desperdiçar seu tempo. É uma cilada, Bino.

Mas cilada ou não, não vou excluir minha conta no Threads (sim, primeiro, logicamente, porque, se eu tentasse, não ia conseguir, porque não tem opção pra fazer isso, lembra?). Mas também porque vou dar um voto de confiança pro tio Zuck, já que ele disse que esse Threads vai ser compatível com ActivityPub. O que significa que, em algum momento, mais cedo ou mais tarde, eu vou poder fazer o que eu imaginei ser possível logo de cara: seguir amigos e familiares que estão nas redes sociais mais habituais e que entrarem no Threads, através de federação.

Minhas crenças de que isso será possível se baseiam, sobretudo, em várias coisas que foram ditas pelo Eugen Rochko, criador do Mastodon, no blog oficial da ferramenta, quando ele explicou o que deveríamos saber sobre o Threads. Por um lado, ele diz esperar que o Mastodon e o Threads se tornem interoperáveis, justamente o que permitirá, tecnicamente falando, que os usuários sigam uns aos outros, trocando, citando e respondendo mensagens entre si, mas diz que a abertura do servidor ao qual estamos federados para que isso seja possível depende do administrador de cada instância, que pode permitir ou proibir a comunicação com o Threads. Na instância em que eu estou, o administrador já sinalizou que, apesar de não curtir o Meta tanto quanto eu, está disposto a manter as portas abertas porque não faz sentido bloquear as pessoas de contatarem seus familiares e amigos que estão nas redes do Meta só porque pessoalmente ele não gosta deles (e eu achei isso fantástico).

Quanto às coisas que poderiam me afetar diretamente ao usar o Threads, como fazerem uso das minhas informações pessoais para efeitos de exibição de propagandas, ou para informar a terceiros sobre minhas atividades para que estes terceiros, por sua vez, me façam ofertas imperdíveis, estarei imune. Rochko destaca isso, ao dizer em sua postagem que apenas aqueles que resolverem baixar, se inscrever e usar direta e ativamente o Thread serão afetados. Aos que, como eu, ficarem exatamente onde estão, mesmo que eu passe a seguir e interagir com alguém de lá através dos poderes do ActivityPub, não haverá brecha através da qual a Meta possa se apoderar dos meus dados (exceto aqueles das mensagens que eu resolver trocar com alguém lá, mas isso é óbvio).

E eu também não serei bombardeado de anúncios!! Já que, ao menos por padrão, o Mastodon não contém nenhuma função específica que exiba anúncios, ficar acompanhando o Threads só de longe, através da federação, me garante continuar não tendo nenhuma propaganda exibida para mim, porque na instância onde estou isso já não ocorre e é impossível que qualquer instância terceira venha a inserir posts patrocinados e outras merdas no meu feed, já que ele é criado no próprio servidor onde estou, com base nas pessoas e hashtags que eu escolhi seguir. Se tiver gente que postar anúncios e eu não gostar, posso também mutar, deixar de seguir ou bloquear a pessoa. Liberdade total.

Eu fico vendo o movimento de plataformas como o Meta ao adotar o ActivityPub e ainda não sei exatamente os rumos e os verdadeiros interesses por detrás de decisões como esta. Mas é legal perceber que por tentarem fazer alguma coisa face ao movimento de migração em direção à redes descentralizadas, estão demonstrando sentir incômodo. Eles vão precisar melhorar sua oferta de serviços. Porque, se não o fizerem, pode ser que seus valiosos usuários passem a enxergar, cada vez mais, que existe um caminho para que ninguém fique preso a plataforma nenhuma — exceto se assim o desejar, é claro.