Havia uma história sobre uma águia e um lagarto de cauda azul, na qual a águia, atacando o lagarto, mergulha e arranca sua cauda.

O lagarto, ferido e em busca de vingança, The wounded skink, in vengeance, escala até onde está o ninho da águia e devora vários dos ovos que ali estão, pensando, “Estes ovos têm a quantidade exata de carne para me fazer crescer uma cauda nova”.

E assim, águia e lagarto continuam. Ela, mergulhando em seu ataque, para arrancar uma nova cauda do lagarto, o lagarto escalando ao ninho para comer mais ovos, repetidas e repetidas vezes, nenhum dos dois adversários realmente chegando a ser vencido, pois sempre haveria “carne suficiente na cauda para fazer mais ovos, e carne suficiente nos ovos para fazer crescer uma nova cauda azul.

Eis, então, a futilidade — e o círculo, sem fim e vicioso — que se encerra no ato da vingança.


Adaptado por mim a partir de trecho do livro “Why fish don’t exist”, de Lulu Miller. Imagem do post, “Blue-tailed Skink“, de Matthew Baldwin, originalmente publicada no Flickr.

“Be happy. Not because everything is good, but because you can see the good in everything.”

Eu não sei de quem é a citação que reproduzi acima. Porém, ela tem tudo a ver com uma conversa que estava tendo com um amigo esta semana no trabalho, sobre como nós, seres humanos, somos capazes de nos concentrar muito mais nos momentos ruins da nossa vida cotidiana do que nos momentos bons. Seja quando o pneu do nosso carro fura, quando a gente queima a pipoca antes de assistir a um filme, quando uma reunião não vai tão bem quanto a gente esperava ou até quando a gente se sente menos do que poderia ser.

A gente começou a refletir que deveríamos ser mais capazes de focar naquilo que nos realiza, que nos deixa felizes, embora isso possa em princípio ser difícil.

Mais tarde, nesta mesma semana, estávamos em uma apresentação de final de ano, onde listamos todas as nossas conquistas. Não apenas meu amigo da conversa anterior e eu, mas toda a equipe. Entre as diversas pessoas que falaram neste outro dia, um outro amigo começou coincidentemente a nos falar sobre os aspectos positivos, sobre como eles precisam ser lembrados. No meio de cada batalha diária, sempre há momentos bons. Foi quando ele disse que conhecia um conceito que, dada sua simplicidade, poderia até ser considerado bobo por alguns.

A gente deve criar o hábito de ter um jarro da felicidade.

O jarro da felicidade, segundo ele nos explicou, me pareceu uma das maneiras mais simples de melhorar nosso humor e nos fazer refletir sobre como devemos ser mais gratos em relação ao que temos, ao invés de ficar trazendo à tona os momentos ruins. E é tudo muito simples: você pega um jarro — que pode ser um jarro de vidro, de plástico, pode ser uma caixa de lenços de papel ou qualquer outra coisa, de fato, pois é apenas um meio — e começa, diariamente, a escrever, em pedaços de papel, tudo aquilo de bom que tenha acontecido com você e também aquilo pelo que você deve agradecer.

Comi meu prato favorito no almoçotive uma conversa muito boa com um amigo que não vejo há mesesaprendi uma coisa nova, ou fui elogiado por uma apresentação, são todas coisas que me vêm à mente agora, enquanto escrevo este texto, e que poderiam facilmente fazer parte do meu jarro da felicidade. Pode ser qualquer coisa, de fato, que, ao ser relida, te traga um pouco mais de ânimo, de felicidade… que te provoque um sorriso no rosto. E é simples assim. E por ser tão simples, você deveria começar a praticar, exatamente como eu vou fazer.

Para finalizar, eu agora percebo que sabia duas coisas sobre o jarro da felicidade das quais não me dava conta antes.

Primeiro, o jarro não precisa ser físico. Quando nosso amigo nos falou sobre a técnica do jarro, aliás, a primeira coisa que me veio em mente foi a técnica de journaling. Escrever uma nota no celular, escrever em um arquivo de texto… novamente, tanto o celular quanto o arquivo são apenas os meios. E o jarro, sendo uma metáfora, deve ser pra nós aquilo que seja mais fácil de encher com fatos e momentos positivos.

Segundo, juntamente com aquilo que se escreve para colocar no jarro, qualquer que seja ele, é muito interessante citar nomes de pessoas e associar datas e ocasiões. Mais tarde, quando estivermos relendo aqueles pedacinhos de felicidade e gratidão, certamente nos lembraremos da época associada e isso poderá nos trazer um melhor contexto e, quem sabe, até mesmo novas lembranças para o nosso eu futuro, que serão igualmente depositadas no jarro.

…ou, o que fazer em relação a críticas.

Certamente, se você vive entre os seres humanos, já deve ter recebido alguma crítica que considerou injusta, ou mesmo maldosa.

Por isso eu resolvi compartilhar esta versão da conhecida fábula de Esopo, que traduzi livremente, a partir deste texto que encontrei online:

O avô e seu neto iam ao mercado para vender seu burro.

Enquanto eles andavam pela estrada, iam a pé ao lado do burro. Então um camponês passou por eles e disse: “Seus tolos, para que mais serve um burro, senão para que se ande por aí em cima dele?”.

Então o avô montou o neto no burro e eles continuaram seu caminho até o mercado. Mas não demorou muito e cruzaram o caminho de um grupo de homens, e um deles disse: “Mas vejam só que menino mais preguiçoso! Deixa seu avô caminhar enquanto ele vai montado no burro!”.

Então o avô mandou que o neto desmontasse do burro e subiu no animal ele mesmo. Só que eles não tinham ido muito mais longe quando avistaram duas mulheres, sendo que quando passaram por elas, uma comentou: “Ora! Que velho mais sem vergonha! Deixando seu pobre netinho a pé, enquanto vai por aí todo folgado, montado nesse burro!”.

Desta vez o avô não soube imediatamente o que fazer. Porém, finalmente resolveu montar o neto à sua frente, e então recomeçaram o caminho para o mercado, os dois montados no burro.

Àquela altura, os três haviam chegado à cidade, e todos os que passavam por eles gesticulavam muito e apontavam os dedos em sua direção. Tanto que o avô parou o burro e perguntou o que tanto tinham visto para apontar-lhes as mãos.

“Vocês dois não tem vergonha de sobrecarregar com tanto peso um pobre burro como esse?”, responderam alguns deles.

O avô e seu neto então desmontaram do burro, e tentaram pra valer pensar no que podiam fazer. Depois de muito tempo tiveram a ideia de cortar uma vara, amarraram as patas do burro nela e ergueram a vara até seus ombros para carregar o animal.

Enquanto andavam, não puderam deixar de perceber as gargalhadas de todos que encontravam. Até que finalmente chegaram até a Ponte do Mercado, onde uma das patas do burro acabou se soltando da amarração na vara, e o animal, livre para tentar dar um coice, fez com que o neto derrubasse seu lado da vara.

Com todo o esforço feito, o pobre burro caiu da ponte dentro do rio e, com suas patas amarradas como estavam, o animal acabou se afogando.

A moral da história? Aquele que tenta agradar a todos, acaba não agradando ninguém.