Daniel Santos

DualDiscs: a moda pega?

Artigo publicado em 27/10/2005 para a rádio Antena 1.


É fato: Gigantes do ramo da música como a EMI, Universal, Sony/BMG e a Warner Music uniram forças para criar o que acreditam ser o substituto perfeito para os CDs convencionais, vendidos há anos nas lojas do mundo inteiro. Trata-se do DualDisc, tipo de mídia inovadora que combina o CD e o DVD em um único disco e que nos Estados Unidos já é um produto comercialmente viável desde fevereiro deste ano.

Admito que minha primeira reação ao DualDisc pode ser a mesma de 82% dos escolhidos para testá-lo durante o ano passado: Trata-se do produto dos sonhos de muita gente, pois combina as trilhas de áudio encontradas nos CDs com documentários, clipes de vídeo e virtualmente qualquer outro conteúdo que o artista desejar incluir em sua porção DVD. É o sucessor perfeito para os CDs que contêm faixas multimídia, pois dispensa o uso de microcomputador para acesso ao conteúdo e, de quebra, custa em média somente dois dólares a mais que um CD comum: seu preço final acaba sendo praticamente o mesmo.

Na terra do Tio Sam o que não faltam são títulos em DualDisc. Have a Nice Day, do Bon Jovi, Don’t Believe the Truth, do Oasis e Rebirth, da Jennifer Lopez são apenas três dos muitos títulos já lançados, aos quais se somarão ainda mais, até o final deste ano. No caso do álbum de J. Lo, um terço dos compradores preferiu o novo formato em relação ao tradicional CD. Ponto para as gravadoras que se uniram em torno do formato, já que esperam, incluindo conteúdos bônus nos DVDs de seus DualDiscs, desincentivar a pirataria e o download de conteúdo ilegal da Internet. Mas será tão simples assim?

Se tem gente que adorou o DualDisc, há também uma série de reclamações sobre o novo formato, que, só pra começo de conversa, não atende às especificações Red Book, que regulamentam os CDs de áudio atuais e que ditam que uma camada de áudio deve ter no mínimo 1,1mm de espessura. Os 0,9mm do DualDisc, embora pareçam representar pouca diferença, podem fazer com que diversos CD players no mercado não reproduzam os discos. Seria como se uma pessoa tentasse ler um livro com óculos do grau errado, já que faltaria espaço entre a camada e a leitora laser dos aparelhos. O resultado é que não se pode aplicar o selo “Compact Disc Digital Audio” a um DualDisc, por não se tratar, oficialmente, de um CD comum.

Já com as especificações do lado DVD, o DualDisc não enfrenta problema algum. Mas os consumidores, sempre alertas, já descobriram que o disco é mais frágil que um DVD comum, ou mesmo um CD normal: Como a camada de áudio possui 0,2mm a menos de espessura, marcas de dedo e pequenos arranhões podem ser fatais ao reproduzir um DualDisc em casa ou no carro. Com 1,5mm de espessura total, tem gente que também reclama que o disco pode ficar emperrado em um slot do CD ou do DVD player muito facilmente e, se já não fosse o suficiente, a vantagem de ter dois lados para a gravação de dados acaba às vezes jogando contra o patrimônio: É impossível imprimir uma etiqueta em um dos lados da mídia, e a pessoa tem que estar atenta à marcação no centro do disco para diferenciar o lado CD do lado DVD.

Detalhes à parte, ainda acho cedo demais pra dizer se o DualDisc pega. As tendências de mercado parecem demonstrar que sim, e gigantes do ramo como as que citei normalmente não brincam em serviço. Mas o formato ainda enfrenta alguns problemas legais. Dieter Dierks, inventor do formato DVD Plus, por exemplo, diz que o DualDisc estaria infringindo algumas de suas patentes européias. Não pegaria nada bem para uma tecnologia disposta a fazer justamente o combate de cópias piratas e ilegais, não é mesmo? O jeito é esperar pra ver o que a reação do mercado nos dirá.