Daniel Santos

Código Aberto contra o iPod

Artigo publicado em 03/11/2005 para a rádio Antena 1.


Uma das grandes febres do momento é, sem dúvida alguma, o IPod, um reprodutor de áudio portátil que desde o começo do mês passado também ganhou uma versão que o transformou num reprodutor de vídeo. Os motivos para a febre? Um IPod chega a comportar até 15.000 músicas e os mais novos armazenam até 25.000 fotos ou 150 horas de vídeo, transformando o pequeno aparelho em uma central de entretenimento completa.

Samsung, Sony, Panasonic e até mesmo a Nokia. Todas estas empresas já se aventuram com reprodutores portáteis de vídeo, seja em celulares ou aparelhos específicos para esta função. Mas uma coisa é certa. O IPod desponta entre todos como o primeiro dos dispositivos dos quais se lembra quando o assunto é reprodutores de áudio e vídeo. É difícil competir com, talvez, o maior dos êxitos comerciais de Steve Jobs, CEO da Apple. Mas o que estaria fazendo uma empresa chamada Neuros Audio neste meio? Tentando, à sua maneira, ser uma pedra no sapato de Jobs, é claro.

Seu modelo Neuros 442 é o que a empresa espera usar para bater de frente com a Apple. Com um poderoso processador otimizado para multimídia, uma tela de 3,6 polegadas com 65.000 cores e um HD de 40Gb, ele praticamente se equipara ao IPod no que diz respeito à capacidade de armazenamento de vídeo: as mesmas 150 horas. Embora para música (10.000 arquivos) e fotos (20.000 imagens) a vitória seja do mais famoso. Mas o que torna a Neuros merecedora de destaque nesta história? É que a empresa de Chicago tem um aliado: A comunidade de desenvolvimento de código aberto.

O código aberto já mostrou no passado que é um grande competidor: O Windows, da Microsoft, é ameaçado pelo sistema operacional Linux, que vem em várias distribuições diferentes e que, bem ou mal, rouba cada vez mais mercado de Bill Gates. Gates também anda com a pulga atrás da orelha por conta do Firefox, navegador web que conta com muitos usuários, que o preferem em lugar do Internet Explorer. A aposta da Neuros é conseguir que sucessos assim se repitam, desta vez em seu próprio benefício.

O Neuros 442, a ser lançado em janeiro de 2006, teve seu firmware - software embutido no hardware do 442 e que o fará funcionar - divulgado na Internet para que possa receber contribuições. Embora o hardware já esteja 100% definido, sobram para os voluntários - em sua maioria, hackers - os ajustes na interface com o usuário. Trocando em miúdos, os especialistas no código aberto são consumidores comuns: Gostam de facilidade nos aparelhos que compram, principalmente se desejarem estabelecer trocas de arquivos entre seus celulares e players. Interfaces Bluetooth e conexões Wi-Fi viriam bem a calhar pra isso, e é aqui que a empresa aposta que receberá auxílio.

Analistas acreditam que a iniciativa é louvável mas tardia: afinal, o lançamento será no começo do ano que vem, o que dá à Neuros pouco tempo para integrar contribuições. Mas uma coisa é certa: A Apple deve abrir os olhos. Afinal, todas as iniciativas similares envolvendo o IPod foram barradas legalmente pela empresa tão logo ela pôde fazê-lo. Enquanto isso, recebendo contribuições, a Neuros pode acabar sendo aquela que, come pelas beiradas e ainda que não passe uma rasteira definitiva em Steve Jobs, entrará para a história, como uma lutadora memorável.