Daniel Santos

A guerra do armazenamento

Artigo publicado em 06/10/2005 para a rádio Antena 1.


Cinco em cada dez pessoas que conheço carrega consigo algum tipo de memória flash. De tamanho reduzido e não precisando de uma fonte de energia para armazenar informações, ela é amplamente usada pelos fabricantes dos mais diversos tipos de hardware: câmeras digitais, tocadores de MP3 e celulares, por exemplo, são aparelhos que confiam na memória flash para funcionar.

Há também os cada vez mais populares flash drives, utilizando conexão USB para se comunicar, permitindo o transporte de arquivos diversos, como documentos, planilhas, fotos digitais ou até mesmo clipes de vídeo. Pare e pense: Quantas pessoas você conhece que carregam no bolso um flash drive?

A popularidade crescente da memória flash se deve, em parte, aos anúncios de diversos fabricantes que, dia após dia, lançam memória capaz de armazenar quantidades cada vez maiores de dados. Se algumas memórias flash carregam apenas alguns kilobytes, produções recentes da Toshiba e da SanDisk já podem carregar 8 gigabits de informação, ou 1Gb de dados. Em setembro, o lançamento do IPod Nano, tocador de MP3 da Apple, com capacidades de armazenamento de 2 e 4Gb, se deveu em parte à introdução dos chips NAND de memória flash de 16 gigabits da Samsung e à utilização dos chips da Toshiba.

Mas essa popularidade ceifará de nossas vidas os bons e velhos discos rígidos? Haverá mercado suficiente para que os hard disks permaneçam entre nós no futuro? Dia desses li uma entrevista de Bill Watkins, CEO da maior fabricante mundial deste tipo de hardware, a Seagate. Watkins expôs um mercado milionário que fechará 2005 vendendo 380 milhões de unidades, já projetando uma venda de 420 milhões delas para o ano que vem. Segundo ele, os dois mercados coexistirão por algum tempo.

Memórias flash são mais lentas que os hard disks. Não são capazes – ainda – de reproduzir com velocidade vídeos e áudio, se a qualidade de gravação for bastante alta. Mas fazem sentido quando a capacidade de armazenamento pode ser menor, o que a tornou tão popular para carregar arquivos pessoais. Quando velocidade e capacidade têm pesos iguais, há um belo campo de batalha entre as duas tecnologias.

Enquanto discos rígidos têm a seu favor as taxas de transferência muito superiores às das memórias flash, estas possuem baixíssimos consumos de energia. Quem usa celular, por exemplo, não quer gastar sua bateria em prol do funcionamento de um hard disk. Nesta batalha em que a tecnologia NAND é arma da Samsung – maior fabricante de chips flash do mundo – para dominar o mercado de dispositivos portáteis, a indústria dos discos rígidos já alça novos rumos.

Em negociações recentes com fabricantes de celulares, a Seagate já fala em HD’s que comportem de 10 a 20Gb, para aparelhos que transmitem e armazenam música e programas de TV. Além disso, há o mercado automotivo, onde tocadores de CD e DVD poderão ser alimentados com downloads sob demanda, e onde diversos dados poderão ser coletados do motor dos automóveis.

Quem ganhará esta disputa? É difícil dizer. Os dois lados parecem estar embrenhados numa batalha silenciosa, por enquanto. Mas tal qual acompanhávamos nos anos 80 o clima entre a antiga União Soviética e os EUA, nesta guerra fria digital também vale a pena ficarmos de olhos. Bem abertos.