Por que gostamos tanto de ovo de Páscoa no Brasil?
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O Ghedin escreveu recentemente sobre ovos de Páscoa: além de reforçar que comprar barra de chocolate vale mais a pena do que comprar ovo de Páscoa, — uma verdade que aqui em casa já sabemos há tempos —, ele levantou duas dúvidas:
No ano da graça de 2024, as dúvidas relacionadas à Páscoa aqui em casa são outras: de onde veio a ideia de presentear as pessoas com ovos de chocolate? E por que o Brasil parece obcecado com essa tradição, a ponto das pessoas toparem pagar R$ 100 por 100 gramas de chocolate ruim apenas por ele estar em formato ovalado?
A primeira dúvida foi muito bem respondida por ele, através de consultas à sempre salvadora e elucidativa Wikipédia. A resposta tem a ver com a representação de fertilidade que o ovo possui, e de como os atos pagãos da antiguidade de enterrar ovos no equinócio para garantir boas colheitas migraram para a Europa e foram apropriados pelos cristãos para simbolizar o renascimento de Cristo e, “graças ao marketing melhor da turma do Vaticano, foi essa a história que colou“ (😂). Os ovos de chocolate surgiram na França, primeiro como ovos de galinha recheados de chocolate pelos pâtissiers françaises e mais tarde evoluindo para os ovos 100% feitos de chocolate que conhecemos, um fruto de melhores processos de industrialização e avanços tecnológicos a partir do século XIX.
Mas foi na segunda dúvida do Ghedin que eu mais me prendi: “Por que o Brasil é aficionado por ovos de chocolate segue uma incógnita“.
De fato, não é muito fácil achar uma resposta definitiva para a predileção dos brasileiros pelos ovos de chocolate. Sabemos que os ovos têm um lugar especial no coração tanto das crianças quanto dos adultos, e que eles são muito maiores aqui do que nos EUA.
Seríamos nós, os brasileiros, os maiores chocólatras do mundo e, por conta disso mesmo os maiores consumidores de ovos de Páscoa? Não exatamente. Os maiores consumidores de ovos pascais do mundo são os australianos. O pessoal de Down Under consome 5kg por pessoa por ano, mas perdem para os suíços, que levam esse número a 8,8kg por pessoa por ano, e são os campeões mundiais de consumo de chocolate. Ah, brasileiros ficam longe dessa marca, com apenas 3,9kg por pessoa por ano.
Quem sabe então nossa loucura por ovos de chocolate seja fruto do gosto do brasileiro por doces em geral? Bom, também não. O sweet tooth, ou gosto exagerado por doces — já vi algumas pessoas se auto-denominarem formigas quando são assim — é maior na Rússia, Irlanda e Turquia. Na pesquisa do link, respectivamente 56%, 55% e 54% dos habitantes disseram consumir doces regularmente. Já no Brasil, apenas 1 em cada 5 pessoas consome doces 5 ou mais vezes na semana.
Mas a resposta para a preferencia do brasileiro pelos ovos de Páscoa pode ter a ver, sim, com açúcar. E com história. Em vários livros da matéria na minha época de escola, o Brasil aparecia como grande produtor de açúcar — posição, aliás, que o país ocupou por muito tempo —, devido à colonização de Portugal, que vendia açúcar mascavo para ser refinado na Holanda.
Estes fatos eu encontrei em uma postagem do Quora, respondendo o porque dos brasileiros comerem muito doce. Nesta mesma resposta, aprendi que o açúcar também era fabuloso no que diz respeito à conservação de alimentos. A população em geral não podia se dar ao luxo de desperdiçar comida, então começou a fazer doce de banana, doce de leite e outras iguarias. E junto com produtos como cana-de-açúcar, coco, morangos, amendoim e tantos outros, misturados ao açúcar, o chocolate só poderia nos tornar ainda mais viciados em doce — e doce é doce em qualquer formato, até mesmo em formato de ovo de Páscoa, não é mesmo?
Acredito, portanto, que somos aficionados por ovos de Páscoa por conta dessa nossa convivência com brigadeiro, cajuzinho, doce de coco, paçoquinha e tantas outras delícias às quais eles vieram se juntar aqui no Brasil. E deixo essa história por aqui, esperando ter ajudado a responder a dúvida do Ghedin, ou ao menos apresentar uma teoria factível.