A produtividade do retorno ao escritório
No episódio "The Winds of Change" do podcast "The Memo by Howard Marks", o fundador da Oaktree Capital Management declara que a pandemia tornou o ato de trabalhar remotamente uma coisa comum, e a exigência de estar no escritório cinco dias por semana algo que não é mais, necessariamente, um padrão. É o tal do "novo normal".
A discussão sobre o "novo normal", por sinal, se tornou um tema polarizado: tem gente que defende um trabalho 100% remoto, tem gente que defende um retorno 100% ao presencial, e aqueles que advogam uma combinação entre ambos, com alguns dias no escritório, e outros em casa. As empresas que defendem chamar seus empregados de volta às baias de suas salas com ar condicionado citam ― 10 entre 10 delas ― que voltar ao escritório aumenta a produtividade. Mas o que dizer quando as pessoas que, assim como eu, experimentaram a possibilidade de trabalhar remotamente, também dizem que trabalhar remotamente aumentou a produtividade delas?
Sua experiência pode variar, é claro, mas, para mim, trabalhar remotamente significa ter mais oportunidade de me concentrar, sem as corriqueiras interrupções para atender às pessoas que param do lado da sua mesa ― e que te fazem perder a concentração ― ou ao telefone, ou ao colega do lado que puxa uma conversa sobre algo aleatório. Como meu trabalho é mais cerebral, me concentrar é importante, e me concentrando me torno mais produtivo. Se eu levar em conta o advento de tecnologias como a inteligência artificial, então, o tempo gasto com tarefas braçais tende a diminuir consideravelmente, o que melhora ainda mais a minha produtividade.
Ora, posso fazer mais em menos tempo. E se posso terminar algo na metade do tempo ao me concentrar, eu ganho tempo. E é aí que está o cerne da questão: tanto quanto você ou eu, as empresas também estão de olho no ganho de tempo, porque o tempo que foi economizado pode virar mais trabalho. E mais trabalho, para a empresa, é justamente mais produtividade, de forma que quando um executivo declara que trabalhar remotamente "reduz a produtividade", está querendo dizer que não existe um esperado ― e desejado ― crescimento da produtividade.
Mas quando você trabalha 8 horas por dia presencialmente e produz um determinado resultado, e em casa produz o mesmo resultado em apenas 4 horas, a empresa "perdeu" 4 horas de produção. Levando em conta nosso sistema produtivo, isso é inaceitável: ele não foi criado para nos dar tempo livre quando ficamos mais eficientes, mas sim para extrair o máximo dessa eficiência.
Como somos contratados da empresa, nosso tempo não é nosso, e sim, da empresa. O que transforma voltar ao escritório em uma questão de controle sobre os ganhos de nossa produtividade, mesmo que essas 4 horas "economizadas" se transformem em mais reuniões que podiam ter sido um e-mail, ou em interrupções desnecessárias. A empresa precisa dar um jeito de capturar cada minuto de ganho de nossa produtividade.
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